Educação e Cidadania

Olá pessoal!
Somos professoras participantes do curso Educação para Diversidade e Cidadania - EaD Bauru.
Este blog tem a finalidade de expor ideias de nossas aprendizagens, sobre os temas abordados e outros relacionados, como trabalho de conclusão de curso.
Esperamos que esta ferramenta nos possibilite cada vez mais, obter recursos para ajudar nossos alunos a se tornarem verdadeiros cidadãos, livres de preconceitos.


terça-feira, 16 de março de 2010

Mulher Quilombola


Como é ser mulher numa comunidade quilombola: como elas vivem no dia a dia; qual a sua participação nas lutas travadas pela comunidade; e como enfrentam a discriminação por raça e gênero.

Zilda Furquim da Silva, Maria da Guia Lourenço Silva, Nilzete Rodrigues da Silva de Morais e Neire Alves da Silva pertencem ao Quilombo de Ivaporunduva, localizado na região do Vale do Ribeira, ao sul do estado de São Paulo.

As cerca de 70 famílias de Ivaporunduva foram as primeiras no Estado de São Paulo a se mobilizar para garantir os seus direitos territoriais, lutando pela titulação de suas terras e contra a construção das barragens no Rio Ribeira de Iguape.

Em 2003, a comunidade conseguiu que o Instituto de Terras de São Paulo titulasse parte de seu território (672,28 hectares).
Essas quatro mulheres não são exceção na comunidade onde vivem. Segundo Neire, lá as mulheres “participam de reuniões, participam de associações, dão opinião. Acho que estamos bem adiantados nessa parte de organização da mulher, pois todos os anos nós nos reunimos e vamos para Eldorado fazer as nossas reivindicações”.

“A gente tem várias organizações paralelas”, conta Maria da Guia. Além de participar da associação do quilombo, atuam fortemente na Pastoral da Criança, nos mutirões, no grupo de mulheres e como artesãs também desenvolvem o projeto de artesanato com a fibra da bananeira.

“Eu trabalho na roça, faço artesanato, faço parte do grupo de mulheres e também sou líder da Pastoral da Criança. E a gente está sempre mais junto das mulheres. Participo de reuniões porque lá as mulheres também participam de reuniões. Se tem uma assembléia, a gente acompanha e dá opinião. A gente é sócia da associação quilombola. A gente sempre acompanha as lutas. Acho que não tem muito divisão entre homens e mulheres, por que a gente participa junto” conta Nilzete.

Neire comenta da importância do artesanato para autonomia da mulher quilombola em Ivaporunduva:
“Eu também sou artesã. Tem um grupo grande de artesanato e eu acho que é uma fonte de renda para a mulher. As mulheres podem, assim, estar tirando um dinheirinho. A gente não precisa depender em tudo do marido. Se tiver uma fonte de renda que possa ajudar para gente é uma alegria, porque daí a gente não fica dependendo tanto do marido. Acho que foi uma conquista financeira muito grande essa parte de artesanato”.
“Muitas coisas a gente não tinha no quilombo. Hoje a gente tem, como telefone e várias coisas que ajudam a vida da gente. A gente tem um grupo grande que mexe com a banana. Então, a briga antes era por um caminhão. Hoje já temos um caminhão que sai fretado de banana para São Paulo” conta Nilzete.

Este é só um exemplo das conquistas trazidas pela mobilização e empenho dos moradores da comunidade de Ivaporunduva.

Para a vida das mulheres, uma grande conquista foi a divisão dos afazeres domésticos com seus maridos como expõe Neire:
“A nossa luta já vem de um certo tempo e a maioria dos homens aqui na comunidade já é bastante conscientizada. A maior parte é liderança, então viaja muito, então existe uma parceria, um trabalho igualitário. Então por exemplo: jantou, cada um lava o seu pratinho e vai deixar em ordem. Uma igualdade em tudo, não só fora, mas tem que ser igual dentro de casa também.”

Mas a luta por melhorias na vida da comunidade continua nas áreas de transporte, previdência e saúde.

“Um sonho da gente é ter uma vida melhor, por exemplo, um meio de transporte, que é difícil. Tem a balsa lá em cima, mas é meio contramão. A gente pede uma balsa para transportar mercadoria, a banana. A gente está lutando com isso”, comenta Nilzete.

Já Maria da Guia comenta uma das principais reivindicações das mulheres de Ivaporunduva: “Agora a gente está lutando na questão da previdência para adquirir a aposentadoria por idade para as mulheres e auxílio maternidade, que não está sendo fácil. Conseguimos uma parte, mas não chegamos aonde queríamos chegar”.

Outro ponto presente nas reivindicações da comunidade é a questão da saúde. Segundo Maria da Guia: “a gente sabe que está precária no país inteiro, mas para nós lá se torna mais difícil ainda. A gente tem PSF, que funciona uma vez por semana. Vai um médico e uma enfermeira que atende por duas horas em meia e isso é insuficiente. Não é uma coisa voltada para nós, quilombolas. Por exemplo, na questão de um dentista que a gente reivindica muito. Não há tratamento odontológico. A gente luta por um dentista que não extraia o dente, mas que faça um tratamento adequado. A gente luta para que consiga futuramente um médico, com um postinho, um dentista para estar tratando realmente da saúde”.

Apesar dos desafios que persistem, as mulheres de Ivaporunduva estão otimistas. Assim diz Neire: “é difícil conseguir as coisas, mas unidos, juntos, fica mais fácil. Foi pensando nisso que nós nos juntamos para conseguirmos o que queríamos e não ficamos esperando”.

“É um sonho da gente que um dia a gente consiga realizar todos os sonhos do quilombo. É uma coisa muito importante para nós” conclui Nilzete.


Fonte : http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_mulheres.html

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